Crítica: “PéPequeno”

Eu amo animações que mostram outras perspectivas que saiam da “zona de conforto” criada quando temos nossos próprios semelhantes como protagonistas. Descobrir tudo que aqueles que nos parecem diferentes à primeira vista podem nos ensinar é um caminho nem sempre fácil, mas com certeza cada vez mais necessário.

Em “PéPequeno” (Smallfoot), quem brilha à luz dos holofotes são os Yetis – os chamados “Pé Grandes” (erroneamente também denominados “Abomináveis” Homens das Neves). Membros de uma funcional sociedade em que reina a justiça e a igualdade, eles vivem em equilíbrio com a natureza e com as lendas sobre as quais foram erguidos os pilares da história de sua espécie.

Migo (voz de Channing Tatum, na versão original) é feliz – sabe aquelas pessoas que acordam literalmente cantando? Pois é – e parece confortável com o que o futuro próximo lhe reserva: substituir seu pai Dorgle (voz de Danny DeVito) na tarefa diária de tocar um gongo para acordar o ‘caracol místico’ que ilumina o céu – entenda-se o Sol.

É justamente em sua primeira – e frustrada – tentativa, que ele testemunha a queda de um avião e tem um, até então inédito, contato com um ser humano, ou como as lendas de seu povo chamam, um “PéPequeno”. Mas, como a verdade às vezes não é algo simples de se aceitar, ao contar sua experiência aos seus pares, ele acaba exilado pelo Guardião das Pedras (voz de Common) – uma espécie de mestre responsável pela manutenção das tradições antigas, inclusive a que prega a inexistência dos PéPequenos.

Caberá a Migo e ao quarteto formado por MeeChee (voz de Zendaya), Gwangi (voz de LeBron James), Kolka (voz de Gina Rodriguez) e Fleem (voz de Ely Henry) provar a importância de manter a mente aberta a novas descobertas, ainda que isso inicialmente possa trazer mudanças radicais à realidade a qual já se está acostumado. É aí que entra Percy (voz de James Corden), um jovem apresentador voltado ao tema natureza, que tem perdido popularidade e precisa de algo que faça seu canal de vídeos ter visibilidade alta novamente.

A partir do encontro de Migo e Percy, cria-se a possibilidade de ampliar conhecimento de ambos. Para o Yeti, é a chance de provar que falava a verdade e ser aceito de volta em casa. Para o humano, pode ser a “mina de ouro” que buscava para recuperar a fama de modo avassalador. Mas, felizmente, a trama mostra-se bem mais profunda, ainda que consiga manter-se leve o suficiente para agradar também as crianças menores.

A integração entre os personagens da animação dirigida e escrita por Karey Kirkpatrick é encantadora. A percepção de que, apesar de tantas diferenças – não só em tamanho, mas em linguagem e crenças – é viável aceitar o que parece diferente, o que foge à nossa rotina cotidiana, é algo que torna o roteiro uma verdadeira joia. Em tempos como os que vivemos atualmente, é um enorme alento enxergar a possibilidade de crescimento moral que ainda existe no mundo, seja em uma tela de cinema ou na vida real.

Há muito a se destacar: a trilha original é daquelas que tem tudo para entrar para as favoritas do gênero, com boas melodias e letras fáceis / interessantes. O visual do Himalaia, com todas as nuances que dão brilho à neve e movimento à pelagem dos Yetis transporta o espectador para o cenário frio e tão rico em beleza natural. E, como de praxe, os personagens secundários têm falas excelentes, que conseguem arrancar de sorrisos a risadas escancaradas da plateia – além é claro, de também fazerem parte dos esperados e bem-vindos momentos emocionantes que devem aquecer até os corações mais geladinhos.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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