Um filme que atrai apenas pela curiosidade mórbida ou um representante forte da contracultura nos cinemas?
“Terrifier 2” conta a história de dois irmãos vivendo o trauma da perda do pai, agora precisando enfrentar Art (David Howard Thornton), o palhaço assassino, que possui um interesse misterioso em sua família.
Um serial killer ressuscitado por uma força sobrenatural desconhecida, cujas bases vamos descobrindo com pistas deixadas ao longo da narrativa, junto com seu rastro brutal de violência. Ele não apenas mata, ele tortura as pessoas psicológica e fisicamente para se satisfazer com seu horror.
As grandes perguntas que aparecem na rede são: é tão assustador quando falam? Preciso assistir ao primeiro antes? Tem alguma narrativa boa no meio de tanto sangue? Vamos responder a cada questionamento.
Primeiramente o material não necessita dos títulos anteriores para ser apreciado, falo no plural já que antes do primeiro “Terrifier” o personagem já foi utilizado em curtas-metragens por seu criador, Damien Leone. “Terrifier 2” reconta o que foi apresentado no anterior, no meio se sua própria trama (o que é não é difícil, pois quase não havia roteiro no primeiro filme, praticamente um festival de carnificina por efeitos especiais práticos).
Prosseguindo, esse não é um longa de jumpscare, não é uma obra de sustos. É uma história que alterna tensão – como na sequência maravilhosa de perseguição dentro de um labirinto com temática de palhaços macabros – com cenas de violência explícita que tendem ao grotesco, já que o prazer de Art não é matar suas vítimas, mas aterrorizá-las ao máximo com suas torturas.
Porém, esse banho de sangue não é totalmente despropositado. Ele faz parte da linhagem estética do splatterpunk, ramo de produções artísticas de contracultura surgida nos anos 1980 (“Terrifier 2” se passado nos tempos atuais, mas adota várias técnicas narrativas e visuais oitentistas), que busca usar a violência explícita para represar o caos social, sendo um dos maiores representantes o artista Clive Barker com sua obra prima “Hellraiser”. Inclusive, desde 2018 temos a Killercon, um evento dedicado a homenagear os principais títulos do gênero.
A produção usa essa questão de caos social com pouco aprofundamento, mas ela está presente e constantemente relembrada, pincelando os problemas de como a mídia e a redes sociais tendem a glamourizar assassinatos, e como isso pode ser traumático para as vítimas, além do próprio caos interno que cresce na família dos protagonistas. Junto com isso, temos toda uma experimentação estética e narrativa para o gênero que a obra traz para o gênero.
O ator que interpreta Art rouba a cena com uma interpretação corporal impactante, variada e coerente, não dizendo uma única palavra, mas transmitindo uma multiplicidade incrível de pensamentos e emoções. A ideia da parceira palhaça difere, não sendo uma cópia da vilã Arlequina, mas sim uma espécie de demônio guardião do vilão. As habilidades sobrenaturais são coerentes e não surgem de forma aleatória.
Por fim, apesar das limitações de roteiro e de atuação, ter uma protagonista (Lauren LaVera) com toque geek e cujo traje lembra uma espécie de anjo guerreiro com uma arma sagrada acentua ainda mais a experimentação estética.
“Terrifier 2” é completo em si, mesmo com as cenas pós-créditos dando margem para uma continuação que já está em pré-produção, sendo uma boa indicação para quem gosta de slashers mais violentos e deseja algo diferente ou um fã do terror mais extremo como um todo.
por Luiz Cecanecchia – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes e pela A2 Filmes.