A dieta vegana é, de um lado, apontada como a “salvação” por quem segue esse estilo de vida; mas também é criticada por muitos. Da mesma forma, não falta quem acredite que cosméticos veganos são menos eficazes, ou que pacientes veganos não têm resultado quando fazem procedimentos estéticos. O que é verdade e o que é mito nessa história?
“Em toda dieta baseada em plantas, o importante é priorizar a escolha de alimentos saudáveis e variados. É indispensável que em todas as refeições sejam identificados proteínas, carboidratos e gorduras de boa qualidade. É indispensável, no entanto, um maior cuidado com relação ao consumo de proteínas de origem vegetal, como as leguminosas”, explica a médica nutróloga Drª. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
“Porém, o consumo de vegetais folhosos, frutos, grãos, sementes oleaginosas, cogumelos e algas, entre outros, é igualmente importante. O ideal é que esse hábito alimentar seja o mais variado dentro do possível, para permitir o aporte de todos os nutrientes necessários”, completa.
Abaixo, a médica e outros especialistas falam sobre os principais mitos e verdades sobre o veganismo:
Alimentação vegana nem sempre é mais saudável. VERDADE. A dieta vegana também pode contar com muitos alimentos ultraprocessados.
“Muitos desses produtos produzidos a partir de plantas, especialmente as carnes, são considerados alimentos ultraprocessados, isto é, são formulações industriais fabricadas a partir de substâncias extraídas ou derivadas de outros alimentos (no caso, as plantas) e sintetizadas em laboratório (corantes, aromatizantes, conservantes e aditivos)”, explica a Drª Marcella Garcez.
“Esse processamento é o que torna tais alimentos mais agradáveis ao paladar e similares aos produtos que se propõem a substituir, mas também é o que faz com que não sejam tão saudáveis quanto os alimentos in natura, podendo, dependendo da composição, aumentar o risco de certos problemas de saúde, como obesidade, colesterol e doenças cardiovasculares”.
“É importante prestar atenção ao que você está comprando e entender como aquele produto foi fabricado e o que traz em sua composição. Mas a melhor opção para aqueles que desejam abandonar os produtos de origem animal de maneira realmente saudável é apostar nas preparações caseiras de alimentos vegetais in natura”, declara.
Dieta vegana faz o cabelo cair. MITO. Se bem estruturada, a dieta vegana não interfere na saúde e crescimento dos fios.
“No entanto, falta de proteínas, ferro, zinco e vitaminas podem ocasionar eflúvio telógeno, ou seja, a queda dos fios. Quando pensamos em construção do fio de cabelo, dois aminoácidos essenciais são mais relevantes: a metionina e a lisina. Por isso, a dieta vegana precisa contar com alimentos fontes desses aminoácidos, como feijão, lentilha, brotos, soja, grão de bico, quinoa, amêndoa, nozes e castanha-do-Pará. A tradicional combinação brasileira de feijão com arroz é eficiente porque garante os dois: o arroz é rico em metionina e deficiente em lisina, enquanto o feijão é rico em lisina e deficiente em metionina”, conta a médica.
Alguns desses alimentos também são fontes de zinco e ferro, outros minerais importantes para o cabelo. A Vitamina B12 também é uma preocupação, já que sua deficiência é uma das principais causas de queda capilar em veganos e vegetarianos. “Nesse caso, suplementos orais ou alimentos enriquecidos podem ajudar. Ambos utilizam vitamina B12 produzida a partir de cultura de bactérias em laboratório”.
Procedimentos estéticos em veganos têm pior resultado. MITO
Segundo a médica Dra. Cláudia Merlo, todo procedimento estético para bioestímulo de colágeno depende de ingestão adequada de proteína para síntese de colágeno e elastina.
“Portanto, para esses pacientes, o importante é ter consumo de proteína vegetal combinada, oferecendo aminoácidos essenciais necessários para a formação de colágeno e elastina”, diz a Dra. Cláudia. Vale a pena apostar na soja, grão de bico e outras leguminosas, geralmente combinando com um cereal (arroz e feijão, milho e ervilha), sugere a Drª. Marcella.
Cosméticos veganos são mais fracos. MITO
Não há nenhuma definição oficial para cosméticos veganos, mas esses produtos normalmente são classificados como cosméticos que não possuem ingredientes de origem animal (carne, aves, peixe, ovos, laticínios, mel, própolis, geleia real, entre outros), nem subprodutos de animais (tais como corantes de insetos, seda etc.) e que também não são testados em animais (ingredientes e produto finalizado), segundo Maria Eugênia Ayres, farmacêutica e gestora técnica da Biotec Dermocosméticos.
“Os benefícios dos cosméticos veganos são os mesmos que os tradicionais. Eles ajudam a hidratar, retardar sinais de envelhecimento e fazer tudo aquilo que os convencionais fazem, mas sem utilizar produtos de origem animal. Para isso, utilizam equivalentes químicos e vegetais, garantindo os cuidados da pele e da beleza”, garante.
Há inúmeros ativos para o rejuvenescimento que são considerados veganos – e são referência em ação rejuvenescedora e pró-idade. “O ácido hialurônico de baixo peso molecular vetorizado pelo Silício Orgânico Hyaxel, por exemplo, é um ativo vegano obtido através de biotecnologia. Além da máxima ação hidratante, ele intensifica a renovação epidérmica (efeito retinoic-like) e aumenta o sistema de defesa da pele, combatendo reações inflamatórias. Outra novidade é a tecnologia de ação rejuvenescedora profunda, atuando nos telômeros, por meio de Telodormin, um extrato derivado de Bulbos dormentes da planta Narcissus tazetta. Este ativo preserva o comprimento dos telômeros, retardando o envelhecimento cutâneo”, finaliza a farmacêutica.
No geral, suplementos são necessários para pessoas veganas. VERDADE
Segundo a médica nutróloga, geralmente é possível que uma dieta baseada no consumo de vegetais ou exclusivamente composta de vegetais, desde que bem planejada, conte com todos os nutrientes necessários à manutenção da saúde do organismo.
“Podem ocorrer carências e algumas são mais frequentes nos casos de pessoas vegetarianas e veganas, como as carências de proteínas, Vitamina B12, cálcio e ferro. Mas a suplementação mais recomendada é da Vitamina B12, cujas principais fontes são de alimentos de origem animal. Embora alguns tipos de alga contem com essa vitamina, ela está em quantidade geralmente insuficiente, portanto frequentemente uma suplementação alimentar deve ser indicada. Todas as carências podem ser evitadas com uma dieta equilibrada e na maioria das vezes corrigidas com o consumo de alimentos fonte desses nutrientes, mas em casos de carências maiores os suplementos alimentares podem ser necessários”, diz a Drª. Marcella.
Dieta vegana afeta a fertilidade. DEPENDE
“De uma forma geral, temos que pensar em ofertar os nutrientes adequados para o organismo, sejam eles de origem animal ou vegetal. Quando a dieta fornece os macros e micronutrientes necessários, não há interferência alguma da alimentação para dificultar a concepção de um filho”, explica o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
“No entanto, se houver, por exemplo, baixa ingestão proteica ou de ômega-3, isso pode afetar a qualidade do óvulo”, acrescenta o médico. Dependendo do padrão alimentar, os veganos correm o risco de ficar com baixo teor de zinco, ferro e vitamina B12, por exemplo, substâncias que são encontradas na carne.
“A camada externa (a membrana celular) de um óvulo requer ácidos graxos essenciais, como o ômega 3, que vem de peixes oleosos. No entanto, sabemos que existem fontes vegetais desse nutriente nas sementes (de chia e linhaça) e oleaginosas (nozes). Os veganos devem se atentar a isso. Caso essa seja uma carência, o ômega-3 também pode ser suplementado com fontes veganas (algas)”, diz o Dr. Fernando.
O zinco e ferro também podem ser encontrados em alimentos vegetais. Outra ‘crítica’ constante à dieta vegana é com relação às proteínas, que fornecem os blocos de construção para óvulos e hormônios saudáveis (o que também tem alta relação com a fertilidade). Mas elas podem ser obtidas de fontes vegetais.
Fontes: *Drª. Marcella Garcez: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN.
A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez
*Dr. Fernando Prado: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres – Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br
*Drª. Cláudia Merlo: Médica. Diretora da Clínica Cláudia Merlo. Instagram: @dra.claudiamerlo
*Maria Eugenia Ayres: Graduada em Farmácia Industrial pela Faculdade Oswaldo Cruz com Pós-Graduação em Farmacologia Clínica. Atua no Setor Magistral desde 2000 onde atualmente é Gerente Técnica da Biotec. CRF 33.424.
da Redação A Toupeira