Colocarmos os pés para fora de nossa residência (também conhecida como “zona de segurança”) é o ponto de partida para nos sujeitarmos a pequenas agressões emocionais que, gradativamente, foram incorporadas ao nosso cotidiano, sob um fino véu de normalidade.
O passageiro que ouve música em volume máximo dentro do transporte público (mesmo ciente do quanto é incômodo para os demais que ali estão); o indivíduo que faz declarações ofensivas que envergonham quem as ouve; os transeuntes que dispensam seus mais cruéis olhares julgadores e nos fazem sentir inferiores por causa de etnias, vestimentas ou singularidades.
A menos que você seja rico o bastante para se tornar autossuficiente, ou decida pelo claustro voluntário (ainda que precise do apoio externo de outras pessoas), vai perceber que a vida em sociedade é inevitável. O que significa que sempre Haverá motivos que colocarão sua ansiedade à prova.
E, se ser ansioso hoje em dia não é nenhum demérito (na verdade, nunca foi, mas a coletividade se vê mais próxima dessa ideia, de uns tempos para cá), segue como algo que demanda cuidados – físicos e emocionais – e, acima de tudo, respeito.
Embora tenha vários títulos do gênero em minha estante, não sou exatamente uma leitora assídua de conteúdos de autoajuda. Talvez minha carapaça seja dura demais para ser perpassada, e eu não perceba resultados significativos em conselhos com ares genéricos, escritos por quem nem me conhece.
Por isso, fiquei tão surpresa com o grande interesse que uma sinopse despertou em mim. Com a proposta de não ser apenas aquele que vai enumerar as falhas dos outros (sob a justificativa de tratá-las), Alexandre Coimbra Amaral acolhe o leitor desde o título de seu novo livro: “Toda ansiedade merece um abraço”.
Com 192 páginas, a obra lançada pelo Selo Paidós da Editora Planeta é ótima para ler rapidamente e seu tamanho é ideal para carregar na mochila. A proposta de se oferecer capítulos independentes (ainda que tratem do mesmo assunto) faz com que seja possível absorver as informações conforme a possibilidade / necessidade de cada um. E, ao trazer frases impactantes do texto em destaque, o autor ajuda a amplificar sua importância e significado.
Psicólogo e terapeuta familiar, Alexandre Coimbra Amaral deixa o leitor completamente à vontade, sem parecer que estamos no meio de uma sessão de terapia regular. E foi o que mais me chamou a atenção, porque eu me senti amparada não por um profissional da área de saúde mental, mas por alguém que enxerga meus problemas, mas ao invés de julgá-los, procura entendê-los junto a mim.
Esse é o grande mérito de “Toda ansiedade merece um abraço”, a capacidade de não se tornar mais um motivo para despertar o mal-estar em forma de espada que paira sobre a cabeça de uma pessoa ansiosa, apenas esperando para lhe ferir.
Ao não sugerir soluções mirabolantes ou que parecem fáceis quando postas no papel, porém mostram-se impossíveis de se realizar na vida real, o livro ganha ares de suavidade e, às vezes (muitas vezes!) é exatamente o que precisamos para ter consciência da espada, mas seguir a busca por formas válidas para desviar de seu fio.
Uma sugestão de leitura que surgiu inesperadamente para mim e que se tornou importante o suficiente para eu manter meu exemplar por perto, a fim de me lembrar de que é viável conviver com minha ansiedade, sem que ela me domine por completo.
Em um dos capítulos, um trecho afirma que “a ansiedade convoca e produz um esquecimento de quem somos”. Que esse abraço literário nos ajude a relembrar.
Crédito das fotos: Angela Debellis.
por Angela Debellis
*Livro cedido pela Editora Planeta.
