Na terça-feira (8), a Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo divulgou em coletiva de imprensa a programação direcionada à comemoração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.
O anúncio foi aberto por nada mais do que uma apresentação do memorável quarteto de cordas da Escola de Música do Estado de São Paulo (Emesp) Tom Jobim, que se apresentou com peças do compositor modernista Villa-Lobos. Dentre as músicas tocadas, Melodia sentimental, o ciclo das bachianas e o Trenzinho Caipira.
O público poderá aproveitar atividades presenciais organizadas nos museus principais da cidade, assim como propostas que podem ser conferidas no site e perfil do instagram Agenda Tarsila. A ideia é conseguir aproximar as pessoas que não puderem conferir presencialmente, mas que encontrarão uma série de atividades e interações em plataformas de streaming e consultas aos materiais.
A Semana de Arte de 22
O dia 13 de fevereiro de 1922 foi um marco para a história artística brasileira. No Theatro Municipal a Semana de Arte Moderna tomou forma, estabelecendo-se como uma oposição às tradições artísticas e literárias do período. Nomes como Anitta Malfatti, Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, e muitos outros, criaram expressões artísticas memoráveis.
(Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 22, autoria de Di Cavalcanti. Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros – USP – Arquivo Mário de Andrade. Crédito: Reprodução)
Da mesma forma que na Europa houve um levante das vanguardas, a Semana de 22 teve uma importância fundamental para o rompimento com as regras estéticas e uma nova maneira de criar arte ganhar espaço no Brasil. Com uma proposta de repensar a identidade nacional, a arte moderna brasileira tem nela uma vastidão de artistas, nacionalidades, localizações no mapa brasileiro e, principalmente, vozes muito distintas. O que foi radical no período vivido pelos artistas virou parte do nosso cânone.
Tendo isso em vista, celebrar a Semana de 22 é uma proposta inteligente de repensar como tomamos nossa identidade nacional. Ela nunca será apenas uma voz, uma expressão, tampouco excludente. Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca do Estado, argumenta que é preciso sempre se perguntar o que é a arte brasileira.
“É uma pergunta constante da Pinacoteca, qual história se quer contar e com qual delas temos contato. A exposição da Pinacoteca, Modernismos, destaques do acervo, tem uma reformulação do acervo para abrir uma grande reflexão, onde estão nossas lacunas e pontos fortes, destacando as vozes de mulheres, artistas negros e indígenas dentro dessa arte que se quer contar. É uma nova amostra desse acervo que abandona uma narrativa linear e cronológica, colocando artistas do século XIX, XX e contemporâneos juntos, como um diálogo entre elas. Só assim um museu pode se projetar para o futuro”, afirmou Jochen Volz.
(Candido Portinari, Mestiço, 1934. Pinacoteca do Estado. Crédito: Reprodução)
Agenda Tarsila
Com o nome do expoente da arte moderna Tarsila do Amaral, a celebração conta com este endereço eletrônico que compila mais de 500 atividades online e presenciais para que o público acompanhe e escolha o que conferir. Já são 100 mil usuários na plataforma e 9 milhões de usuários alcançados em redes sociais.
Desde julho de 2021, a cidade já tem recebido eventos voltados à comemoração. Até dezembro de 2022, teremos 18 meses recheados de uma programação muito rica e convidativa para destacar a importância da Semana de 22 na história artística paulistana e nacional.
Serão por volta de 270 atividades, 186 já foram realizadas e 84 delas ganham destaque em 2022. Esta é uma parceria entre as instituições culturais do governo do Estado com a Secretaria de Turismo e Viagens, com um investimento de R$50 milhões.
A celebração contém 4 eixos: as programações culturais, a Agenda Tarsila, um fomento a diversos projetos e uma articulação entre os institutos artísticos do estado.
“A ideia é que quando terminarmos o ano, e o programa se encerrar, a Agenda ficará disponível, inclusive para pesquisadores e pessoas que no futuro quiserem saber o que foi feito a respeito do tema”, afirmou Sérgio Sá Leitão, secretário de Cultura e Economia Criativa.
Um legado
Com o tema da Semana de 22, o edital do Programa de Ação Cultural (ProAC) teve uma resposta muito positiva, com 494 projetos inscritos, com 16 iniciativas selecionadas, 10 do interior e 6 da capital paulista.
Um dos anúncios mais importantes da Secretaria foi a ampliação do Museu Casa Mário de Andrade. Feita recentemente a desapropriação das duas casas que compõem o complexo original da antiga residência da família Andrade, agora começam as reformas e intervenções, com inauguração prevista para dezembro de 2022.
Será feita a ampliação de 280m2 a 580 m2, com área expositiva, núcleo educativo, sala multimídia, acervo, auditório com 80 lugares, café e loja, além de implementação da acessibilidade física (rampa, elevador e banheiros), mais recursos audiovisuais e táteis para visitantes com deficiência.
Sérgio Sá Leitão anunciou a novidade como um legado que a vasta celebração da Semana de 22 deixa para São Paulo.
Para anotar – Destaques da programação
– Um circuito de apresentações no Theatro Municipal de São Paulo entre os dias 10 e 17 de fevereiro em celebração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna no Brasil. Apresentações da Orquestra Sinfônica Municipal, do Coral Paulistano, do Quarteto de Cordas e do Balé da Cidade, entre outros.
– Projeção mapeada “100 anos de Modernismo / São Paulo celebra a Semana de 22”, do Estúdio Bijari, na fachada do Palácio dos Bandeirantes (13 a 17 de fevereiro)
– Exposição “Modernismo. Destaques do Acervo” na Pinacoteca, com 134 obras de artistas modernistas (13 de janeiro a 20 de dezembro de 2022)
– Exposição “O Atelier de Brecheret” no Museu Catavento, sobre a vida e a obra de Victor Brecheret (10 de fevereiro a 31 de março)
– Exposição “Pilares de 22” no Memorial da América Latina, com caricaturas de artistas brasileiros que influenciaram o modernismo na América Latina (13 de fevereiro a 13 de abril)
– Exposição “Esse Extraordinário Mário de Andrade” no Museu Afro Brasil (25 de fevereiro a 30 de junho)
– Exposição imersiva e interativa “Portinari Para Todos” no MIS Experience (5 de março a 10 de julho)
– Ciclo de Concertos “Clássicos Modernistas”, com execução pela Osesp na Sala São Paulo de 122 obras de compositores influenciados pelo modernismo (10 de março a 18 de dezembro)
– Exposição “A Arte Sacra dos Modernistas” no Museu de Arte Sacra de São Paulo, com obras de artistas modernistas criadas a partir da religiosidade e da fé (16 de abril a 12 de junho de 2022)
– Inauguração da galeria multimídia do Museu Casa de Portinari, apresentando as obras de Candido Portinari reunidas em seu Catálogo Raisonné (Abril de 2022)
– Exposição multimídia e interativa “100 Anos Modernos” no MIS, com curadoria de Marcello Dantas (1ª quinzena de abril a julho de 2022)
– Programação online no site Cultura em Casa
Para consultar essas e outras atividades do centenário da Semana de 22, a Agenda Tarsila, clique aqui.
por Marina Franconeti – especial para A Toupeira