Uma celebridade confinada, há algum agonizante tempo qualquer, Ingrid Savoy (Mel Lisboa), sofre a com a pressão midiática, com medo da derrota no mundo das aparências, e aguarda sua entrada para um reality show.
Seu contato é apenas com a sua conselheira (Carla Rodrigues), com seu diretor (Otavio Linhares), com um fã desorientado (Pedro Gaeta) e com o fotógrafo (Patrick Sampaio).
Os diálogos que parecem gravados e dublados pelos próprios atores, trazem com a limpeza de ruídos uma sensação futurista, de um outro tempo. Afinal o tempo não é uma criação da mente?
A inserção das trilhas de suspense faz o apartamento ou um quarto de hotel de luxo, parecer uma nave voando num espaço infinito. E isso, não poderia ser a representação da personalidade de Ingrid?
Tudo em “Foram os Sussurros que me mataram” é muito reticente, parece um jogo de improvisação, onde a história vai sendo construída pelos próprios atores, e ninguém sabe direito onde vai acabar.
Ataques de grupos anarquistas e embates com fãs, transformam o entorno do hotel em um campo de guerra e histeria alucinada, que revelam a Ingrid que seu novo projeto de vida é morrer.
A vulnerabilidade da famosa transparece em uma falsa fragilidade de sua proteção. Quando se espera muita ação com a invasão do quarto, logo quando a destruição bate em sua porta, essa expectativa se encerra, ao refugiar-se no banheiro, que é uma espécie refinada de bunker apocalíptico, mudando todo o curso da história. A sensação de caos nestes instantes decisivos e a ansiedade gerada são o ponto alto do filme, que atinge o objetivo de suspense.
Existe uma linearidade na celebridade enclausurada. Suas emoções são de expressão dificultosa, não se sabe ao certo se está alegre ou triste, se é cínica ou insegura, algo que se torna muito interessante a partir do convencimento de que é tudo proposital.
Com direção e roteiro de Arthur Tuoto, “Foram os sussurros que me mataram” é um filme com uma proposta interessante. Dispa-se dos conceitos e preconceitos técnicos cinematográficos, e aceite o diferente, e terá bons momentos de emoção.
por Carlos Marroco – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa virtual promovida pela Olhar Filmes.