Crítica: “Minha Estranha Família”

“Minha Estranha Família” (Hvor kragerne vender / Persona Non Grata) poderia ser dividido em duas partes. Embora não exista um corte drástico ou uma ruptura narrativa, quase que em modo abstrato, conceitualmente, pode-se fazer essa distinção. Falemos, então, também em dois blocos. O primeiro pode começar com uma advertência: Não basta.

Isso: para ter um filme com boa qualidade não é suficiente trazer para a tela um desfile de assuntos atuais, contestatários, que podem estar certos, porém, incomodam a uma grande parte das pessoas. Apresentar com atitudes e palavras posturas que alguns definiriam como “politicamente corretas”, não alcança para que uma realização atinja o patamar de boa qualidade cinematográfica, artística.

Laura/Irina (Rosalinde Mynster), a protagonista, retorna desde à região rural onde nasceu e foi criada. Convidada a assistir ao casamento de seu irmão, ao regressar se encontra não apenas com um local e uma forma de vida que detesta, mas também com sua mãe, com quem tem uma relação muito ruim.

Pior ainda: Catrine (Anne Sofie Wanstrup), a noiva do irmão, é uma antiga inimiga, que fez da vida da menina Laura um tormento. Essa surpresa resulta extremamente desagradável e dará margem a todo tipo de situações negativas. E a mágoa com aquele passado, lugar, modo de vida e pessoas se concentra e é simbolizada na mudança de nome: Laura passa a chamar-se Irina.

Dito isso, o relato vai dando lugar a esse desfile antes mencionado: ela vai se mostrando como vegana, em um lugar onde o gado bovino são fundamentais para a subsistência. Procurará deixar em evidência o dano ambiental que produz a cria de gado. Também reconhecerá que tem uma relação matrimonial/sexual aberta, quando todo o contexto da família e os arredores é muito conservador.

Apresentará a si mesma com um visual ambíguo e evidenciará assim, uma postura tolerante ou favorável a uma sexualidade não tradicional – de apenas homem-mulher.

O problema é que todos esses enunciados são apenas isso, palavras que não dão margem a situações cinematograficamente ativas. Apenas há desencontros pessoais, mas muito estáticos. A ação se reduz a conflitos verbais e pouco vigor narrativo. O bom fica estagnado.

Mas, afortunadamente, o filme começa a mudar. Na segunda metade (a partir dos 40 / 45’), há maior peso dramático. As relações pessoais continuam conflitivas, porém aparece mais dinamismo no transcurso e também um caminhar em direção a uma série de situações diferentes das anteriores.

Embora não seja perfeito nesse último trecho, como mínimo, há algo um pouco diferente. Até a música passa a ter um papel muito melhor, com algumas partes agradáveis. Lisa Jespersem, dinamarquesa debutante como diretora e como corroteirista, traz um produto com tais características.

O público pode ficar dividido na atenção e avaliação de “Minha Estranha Família”, comédia dramática que está disponível na plataforma de streaming Cinema Virtual. Fatores intrínsecos e também outros, provenientes da concepção da vida, da arte, da linguagem cinematográfica, inclinarão a balança para o lado positivo ou para o negativo. Para nós, alternada e parcialmente, para ambas as partes.

por Tomás Allen – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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